A difícil arte de ouvir.

07/11/2011 03:08

Um dos maiores problemas de comunicação, tanto a de massas como a interpessoal, é o de como o receptor, ou seja, o outro, ouve o que o emissor, ou seja, a pessoa, falou. Raras, raríssimas, são as pessoas que procuram ouvir exatamente o que a outra está dizendo.  

Diante desse quadro venho desenvolvendo uma série de observações: 

 

1) Em geral não se ouve o que o outro fala: ouve-se o que ele não está dizendo. 

2) Não se ouve o que o outro fala: ouve-se o que se quer ouvir. 

3) Não se ouve o que o outro fala. Ouve-se o que já escutara antes e o que se acostumou a ouvir. 

4) Não se ouve o que o outro fala. Ouve-se o que se imagina que o outro ia falar. 

5) Numa discussão, em geral, não se ouve o que o outro fala. Ouve-se quase que só o que se pensa para dizer em seguida. 

6) Não se ouve o que o outro fala. Ouve-se o que se gostaria que o outro dissesse. 

7) Não se ouve o que o outro fala. Ouve-se apenas o que se está sentindo. 

8) Não se ouve o que o outro fala. Ouve-se o que já se pensava a respeito daquilo que o outro está falando. 

9) Não se ouve o que o outro está falando. Retira-se da fala dele apenas as partes que tenham a ver consigo. 

10) Não se ouve o que o outro fala. Ouve-se o que confirme ou rejeite o seu próprio pensamento. Ou seja, transforma-se o que o outro está falando em objeto de concordância ou discordância. 

11) Não se ouve o que o outro está falando. Ouve-se o que possa se adaptar ao impulso de amor, raiva ou ódio que já sentia por quem está a falar. 

12) Não se ouve o que o outro fala. Ouve-se da fala dele apenas os pontos que possam fazer sentido para as idéias e pontos de vista que no momento nos estejam influenciando ou tocando mais diretamente. 

Ouviu?